Exposição revela relíquias arqueológicas na Baixada Fluminense
Relíquias ao alcance das mãos. Moradores da Baixada Fluminense estão tendo a oportunidade, em uma exposição itinerante, de tocar em objetos deixados por seus antepassados de mais de 6 mil anos atrás. Os vestígios históricos – que mostram que já passaram por lá índios, escravos e europeus – foram resultado do trabalho de especialistas que descobriram, até agora, 33 sítios arqueológicos na região. Supervisionadas pela Secretaria estadual de Obras, as escavações ocorreram durante as obras do Arco Metropolitano, que ligará Itaguaí a Itaboraí.
Os locais foram descobertos ao longo dos mais de 70 quilômetros de obras de construção do Arco Metropolitano. Em Duque de Caxias, foram encontrados sete sítios. Em um deles, chamado de Sambaqui do São Bento, foram localizados registros dos sambaquianos, povo que vivia em bando, de no máximo 30 pessoas, e que se alimentava, principalmente, de moluscos e frutos do mar. Muito primitivos, eles usavam pedras como ferramentas.
Já no local considerado um dos mais importantes do trabalho, que começou ano passado, o Sítio Aldeia das Escravas 2, foram resgatados objetos que marcam a presença tanto do povo indígena como do europeu. Segundo a arqueóloga e coordenadora do projeto, Jandira Neto, é certo que houve uma longa ocupação nesse trecho.
– Encontramos louças europeias do século XVI e do XVIII. Isso mostra que houve uma ocupação colonial de pelo menos 300 anos – explicou Jandira.
Em Japeri, foram encontrados registros de uma aldeia tupi-guarani. No local, foi resgatada uma urna funerária usada pelos índios:
– Essa é uma das maiores urnas encontradas. No local, havia material que revelou a presença dos índios e também da colonização europeia.
“O índio que estava aqui é um parente”
A arqueóloga Jandira Neto, do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), explica como aconteceu a ocupação da Baixada Fluminense:
– Aqui viveram pessoas muito antigas como os sambaquianos e os tupi-guaranis. Depois, chega o homem branco, colonizador, que reocupa essas aldeias. Eles trazem os negros, que por meio do trabalho nos engenhos, deixam a sua cultura. A miscigenação já existe. O povo brasileiro é essa mistura, do mais antigo sambaquiano até o negro.
Porto do Barriga
Entusiasmada com o resultado das escavações dos sítios arqueológicos, Jandira enumera as conquistas obtidas a partir das obras do Arco Metropolitana do Rio de Janeiro.
– Já existiam relatos de viajantes e alguns documentos sobre a ocupação. Sabíamos, por exemplo, que existiu um porto, chamado de Porto do Barriga, mas ninguém tinha conhecimento de onde ficava exatamente. Agora, já temos uma noção da sua localização. A diferença é que temos as peças, que provam que os relatos eram verdadeiros – afirmou a arqueóloga.
Linha do tempo mostra como foi a ocupação da região
A mostra com parte dos objetos encontrados nas escavações dos sítios arqueológicos está em cartaz em Nova Iguaçu. O visitante aprende, por meio de uma de linha do tempo, como é feito o trabalho dos especialistas que buscam recontar a história da Baixada Fluminense.
No topo da terra estão objetos utilizados atualmente, que serão descobertos daqui a centenas de anos pelos futuros arqueólogos.
Após as primeiras escavações são encontrados vestígios dos povos africanos, trazidos pelos portugueses para serem escravizados no Brasil. Nesse estágio, são vistos cachimbos e ferramentas usadas pelos negros.
Em um nível anterior, estão vestígios dos europeus, que trouxeram as primeiras porcelanas e introduziram no dia a dia utensílios como o penico.
Abaixo deles estão os índios tupi-guaranis, com suas urnas funerárias e cerâmicas. Antecedendo esse nível, são encontrados objetos da tribo Itaipu, que já produzia ferramentas rudimentares para caçar e cozinhar. Finalmente, na base, estão os vestígios dos sambaquianos, com suas pedras usadas para preparar os alimentos.
Patrocinada pela Secretaria estadual de Obras, a exposição ficará em Nova Iguaçu até o dia 27 de agosto, no prédio do antigo Fórum, no Centro do município. No dia 30 de agosto, a mostra chega a Japeri. No dia 20 de setembro é a estreia na cidade de Seropédica. Por último, chega a Itaguaí, no dia 4 de outubro.
Fonte:www.extra.globo.com
Letícia Sicsu