IAB comemora 56 anos de Atividades Ininterruptas!

O Instituto de Arqueologia Brasileira – IAB, fundado a 29 de abril de 1961, é uma instituição de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos que, há 56 anos, dedica-se integralmente à Pesquisa, Ensino e Divulgação da Arqueologia Brasileira e que, teve sua primeira sede no Centro do Rio de Janeiro à Av. Marechal Floriano, 207/2º andar e sua primeira reunião, como instituição fundada, na sobreloja do Hotel OK, também no Centro do Rio. Já em 1965 estabeleceu sede própria na Vila Santa Tereza, bairro do município de Belford Roxo. Desde a sua fundação tornou-se um centro formador de pesquisadores e como tal foi considerado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que, como reconhecimento, em 1986, conferiu-lhe o Prêmio José Reis de Divulgação Científica. Embora sua sede tenha sido estabelecida na Baixada Fluminense a partir de 1965, entre os anos de 1974 e 2012 manteve em funcionamento o Centro de Estudos Arqueológicos (CEA) na Casa da Fazenda do Capão do Bispo, em convênio com a antiga Divisão de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Guanabara-DPGHA-GB e, posteriormente, com o Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (INEPAC). Este Centro foi o primeiro do gênero a ser criado por iniciativa do poder público a nível regional e em cooperação com instituição científica particular.

Primeira sede do IAB - 1961 Casa da Fazenda do Capão do Bispo Endereço oficial do IAB hoje área de laboratório e reserva técnica

Nos primeiros 40 anos o IAB desenvolveu inúmeras atividades de pesquisas científicas na área da arqueologia acadêmica, tendo como suporte financeiro convênios firmados com órgãos de fomento à pesquisa, tanto de fórum nacional quanto internacional. Em 56 anos de atividades contínuas, desenvolveu pesquisas acadêmicas e de contrato em oito estados brasileiros: Amazonas, Acre, Rondônia, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. No Amazonas o fez a convites do Museu Paraense Emílio Goeldi (INPA/CNPq), Belém (PA) e do Smithsonian Institution (Washington, D.C), atuando nos vales dos Juruá e Purus, nos estados do Acre e Amazonas, por meio dos Programas: Pronapa (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas e do Pronapaba (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica), sob a coordenação geral de Betty J. Meggers, Clifford Evans e Mário Simões no primeiro; o segundo, (Pronapaba) com o lamentável falecimento do Dr. Evans, foi coordenado pela Dra. Meggers e o Dr. Simões. Ao final da década de 1970 o IAB, tendo como diretor de pesquisas o Dr.Ondemar Dias, já era responsável pelo registro de mais de 200 sítios arqueológicos na Região Norte do Brasil e por escavações em cerca de oito deles. No Acre, localizou e publicou as primeiras pesquisas sobre as estruturas de terra hoje conhecidas como geoglifos.

Acre - 1977 Amazônia - 1980 Minas Gerais - 1969

O IAB em sua trajetória até o presente momento teve, efetivamente, dois presidentes e uma presidenta. Desde a sua fundação até o final dos anos de 1980 sua presidência foi exercida pelo Professor Claro Calasans Rodrigues, professor de francês e dedicadíssimo pesquisador em arqueologia, extremamente ativo, muito bem articulado e que não se rendia ante obstáculos (característica inerente aos demais). Em seguida foi eleita a Dra. Lília Cheuiche Machado, doutora em Antropologia Social pela USP, que atuou como tal até o ano de 1999 quando em 2000 foi eleito o Dr. Ondemar Ferreira Dias Júnior, livre-docente em História da América-UFRJ, e reeleito a cada 5 anos onde permanece no cargo de Diretor-Presidente da instituição e ao qual nos dirigimos, a despeito dos seus inúmeros títulos, e a seu pedido, como, simplesmente, “Professor Ondemar”.

Seu primeiro trabalho em Arqueologia de Contrato foi a convite da UNESCO e do Ministério das Relações Exteriores do Brasil para integrar a Missão de Resgate Arqueológico de Salto Grande, Uruguai (1978), representando nosso país ao lado de equipes do Uruguai, França, Estados Unidos e Alemanha. A partir de 1998 passou a atuar de maneira mais corrente na Arqueologia de Contrato.

E assim chegou até aqui.

São 56 anos de atividades ininterruptas as quais nos esforçamos para divulgar, fortalecendo o que reza em nosso Estatuto como um dos pilares da nossa instituição, ao qual nos dedicamos com entusiasmo.

Sem tradição para incentivos à cultura em nosso país todos sabemos os quão imensos são os desafios para manter uma instituição desta monta funcionando, mas caminhamos determinados em nossa missão, no presente momento com os importantes aportes públicos da Cedae e da Caixa Econômica Federal.

Sendo assim comemoramos, nos últimos 28 e 29 de abril, mais um aniversário de fundação iniciando com o lançamento de nosso novo slogan: “IAB, Novos Caminhos”, o que propõe buscar mover-se cada vez mais em direção à rede de parcerias com outras instituições e maiores investimentos em serviços de curadoria e, em especial, educação patrimonial; seja como cursos seja como atuação direta com públicos para divulgação da arqueologia pública. Ambos contributos para o mercado da arqueologia de contrato.

Assim, sob a bandeira dos “Novos Caminhos”, bem cedinho, no dia 28 de abril, toda a equipe já aguardava seus convidados.

A primeira atividade foi a recepção oficial do grupo de oito novos jovens classificados para o Projeto Pesquisador Curumim e seu monitor, Rafael Jacaúna. Uma privilegiada conversa com o Professor Ondemar Dias e felicitações de todos para a promissora trajetória.

Dia dedicado à comunidade na qual nos encontramos inseridos, e contando com a parceria consciente do Lions Club de Nilópolis das necessidades da mesma, recebemos com alegria seu apoio que se dedicou a realizar a aplicação de flúor nas crianças, as quais apareceram em número bastante tímido apesar dos tradicionais incentivos do IAB como lanche, vídeos educativos, pula-pula e, neste ano, uma linda bola e uma banca cheia de livros para doação com os mais variados temas. Lamentamos não termos recebido a quantidade normal de pessoas que habitualmente nos prestigiam nesta data, mas entendemos que eram enormes os esforços para driblar o frio e a chuva incessante que teimava em liquidificar o barro sob os pés de quem ousava enfrentá-la; ao que se podia classificar quase como uma dança na chuva para se conseguir chegar ao IAB.

Mas não nos demos por vencidos! Na tarde do primeiro dia de aula da semana seguinte, a nossa Diretora-secretária, Cida Gomes, e ex-Presidenta do Lions Club de Nilópolis acompanhada de um monitor, deslocou-se até a creche municipal próxima ao Instituto para aplicar flúor nas crianças que ali estudam, presenteando-as com as bolas coloridas e vibrantes; o que animou a todos a cuidarem dos dentinhos! Um sucesso!

O dia 29 foi destinado a muitas outras gratificantes atividades.

Tendo como convidados, autoridades governamentais da cidade, associados, queridos ex-funcionários, bem como os atuais, outros queridos amigos e mais os oito jovens selecionados para o Projeto Pesquisador Curumim e seu monitor, demos continuidade às celebrações.

Um breve histórico do IAB o apresentou às autoridades e demais públicos que o visitavam pela primeira vez motivando os Secretários de Cultura, Bruno Nunes e Flávio Gonçalves do Meio Ambiente, ambos da Prefeitura de Belford Roxo a exprimirem, inclusive, promessas de maiores cuidados com a região (o que aguardamos ansiosos suas execuções – mais uma vez – agora dessa nova gestão) e, mais tarde, após um tour pelas instalações do IAB, declararam-se perplexos com a estrutura da instituição –  um oásis cultural sediado num bairro completamente abandonado pelas gestões públicas. “Muito interessante! Fascinante! Na verdade é inacreditável que isso tudo esteja em Belford Roxo!”, exclama Bruno Nunes.  “O IAB é uma riqueza do município de Belford Roxo que precisa ser mais bem assistida pelo poder público…”, reflete Flávio Gonçalves.

Um momento que comoveu a todos foi quando Paloma Santana e Leandro Correa (ambos moradores da Comunidade) manifestaram-se como frutos do Projeto Pesquisador Curumim – idealizado e executado pelo IAB – no qual deram os primeiros passos na profissão a que hoje se dedicam, e agora já se aperfeiçoam no grau de pós-graduandos, com a determinação de galgarem graus ainda mais elevados na carreira acadêmica. Igualmente deu seu depoimento, como sucesso do Projeto, William Cruz que começou aos treze anos e graduou-se em História, tornando-se também especialista em computação gráfica, hoje um dedicadíssimo funcionário do IAB. Sem dúvida um extraordinário incentivo para os oito jovens que os assistiam e que, naquele momento, punham os pés no início da mesma estrada. Que todos sejam bem-sucedidos assim como o foram muitos outros dos nossos ex-pesquisadores curumins…

Outro gratificante momento foi quando, visivelmente emocionada, a Dra. Cristina Lodi, arquiteta e assessora do Gabinete da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, recebeu o título de sócia-benemérita do IAB pela sua ativa contribuição ao Projeto Pesquisador Curumim em 2008 (em edital da UNESCO) e em 2015 por meio de orientações e estruturação de projetos que levaram o IAB a participar de Programas de fomento à cultura, promovidos pelos governos de várias instâncias, além de outros subsídios ao longo de sua relação com a instituição.

Também queremos registrar a presença da Ane Simões, assessora financeira chefe (AFC/DP) do Gabinete da Presidência da Cedae – empresa estadual de água e esgoto do Rio de Janeiro – arqueóloga certificada pelo curso de pós-graduação lato sensu da Faculdade Redentor no Campus avançado do IAB e cuja empresa na qual trabalha, patrocina, através de incentivos fiscais federais, o Projeto “Ocupação Humana na Bacia do Rio Guandu na Baixada Fluminense” em cujo escopo constam, além da revisitação a sítios já registrados pelo IAB, a publicação (em andamento) de um livro a respeito dos estudos e pesquisas acerca das ocupações culturais pré-históricas, de contato e aquelas desenvolvidas no período histórico (colonial ou atual) para a Bacia do Rio Guandu; a publicação de uma cartilha de Educação Patrimonial, divulgando o método do Psicodrama Pedagógico, acompanhada de uma mídia com um resumo do que foi a arqueologia e as práticas de educação patrimonial no decurso das pesquisas arqueológicas na Rodovia Arco Metropolitano (onde alguns sítios arqueológicos localizados estão inseridos na Bacia do Rio Guandu); um jogo da memória com desenhos infantis, de estudantes, criados durante as Oficinas que foram aplicadas nas escolas, no decorrer das atividades de conscientização de preservação de patrimônios. Além de um curso de educação patrimonial com duração de quarenta horas – idealizado e executado por Jandira neto – com as aplicações das práticas do mesmo; e diversas outras ações.

Como desdobramentos de todas essas atividades surgiu a ideia de criar uma editora, nascendo assim a IAB-Editora que já começa a fazer história tendo como seu primeiro lançamento a Cartilha de Educação Patrimonial,  sendo, então, distribuídas unidades para todos os presentes, como item comemorativo, o que promoveu momentos de descontração divertindo a todos – além de artigo fundamental para o sucesso do curso supracitado.

Outras pessoas que também nos prestigiaram foram o Cláudio Prado de Mello, arqueólogo, que mantém o Museu da Humanidade (MDHU) na cidade do Rio de Janeiro, o Professor José Antonio Alvez Azevedo, bioarqueólogo e pesquisador do IAB por muitos anos e Juliana B. Cavalcanti (LHER-UFRJ) “como historiadora preocupada com questões de preservação e construções e debates de memória, bem como incentivo a diálogos inter/transdisciplinares ainda estou refletindo sobre a magnitude e complexidade do IAB. De fato, os esforços aqui são louváveis e um modelo a outros centros que pensam História e Arqueologia em contexto/ambiente brasileiro”, diz Juliana.

Bem como em outros anos, nesta mesma data comemorativa, foi inaugurada uma nova exposição. Desta vez, a homenageada foi “Sua Majestade Popular, a cerâmica europeia no Brasil”.

A cerâmica acompanha os momentos de um dos nossos maiores prazeres, a alimentação, uma vez que reina desde os primórdios, em sua expressão menos requintada já para os padrões do século XVI, período da colonização do Brasil, como um dos maiores símbolos das sociedades tribais brasileiras. Os indígenas já a fabricava fosse para uso cotidiano, fosse para importantes cerimônias, como enterramento de seus mortos em forma de urnas funerárias.

Há muito produzida no mundo, e a partir do século XIX no Brasil, com variados graus de sofisticação e os mais diversos tipos de decoração, (assim como a cerâmica indígena) a louça, com suas inúmeras classificações como willow, shell edge, stoneware, borrão, etc., está ali representada. A delicadeza dos traços e a riqueza de detalhes na reprodução de quintas, castelos, encantadores jardins e belas flores a transforma quase em painéis de obras de arte ao alcance, à época, dos olhares mais improváveis.

De uma incrível gama de utilidades, além das já descritas, como: condutos de matéria prima para uso farmacêutico, de bebidas, perfumes e toda sorte de cosméticos, a cerâmica trazida pelos europeus como produto cultural, no ato de seu uso, automaticamente demarcava, bem como outros objetos, a clara divisão de classes e retrata, através do resgate dos cacos do passado, fragmentos de uma história. Não a mais bela. Não a mais digna. Mas fragmentos da Nossa.

 

 

Um dia, há 70 anos, um menino de oito anos, enquanto seus pais se empenhavam nos inúmeros afazeres de adultos, passeava pelos arredores da casa em construção quando encontrou uma imagem, em metal, da Deusa grega “Vitória”. Perplexo com o achado se perguntou: “o que é isso? O que está fazendo por aqui se não há ninguém à volta? De onde veio? Esse menino é hoje o nosso querido Diretor-Presidente, Professor Ondemar Dias. E foi por causa do seu, à época, enigmático achado e suas curiosas perguntas que hoje desfrutamos de tantas alegrias. 

Assista à reportagem dessa história feita pelo Canal Futura  https://youtu.be/ep6C7gi81nA

Gratas e gratos, Professor! Parabéns pela dedicação por toda a vida a esse extraordinário monumento cultural!

Gratas e gratos Jandira Neto pela imensa capacidade de gerenciamento para a sua promoção e preservação!

 

Aproveitamos a ocasião para agradecer a todos os pesquisadores que contribuíram ao longo dos 56 anos para as pesquisas do IAB.

Agradecemos igualmente a todos que nos prestigiaram nesta data, em especial à equipe IAB que, como sempre, trabalha coesa para o sucesso de nossas atividades.

Equipe: Rhuam Souza – Cida Gomes – Gênesis P. Torres – Antonia Neto – Diego Lacerda – William Cruz – Soledade Neto – Sergio Serva – Alessandro da Silva – Geovani Dionísio – Marcos da Silva – Aldeci dos Santos – Marilda Souza – Anselmo dos Santos e Thiago da Silva (amigo do IAB).

Texto: Antonia Neto – Fotos: Diego Lacerda e Antonia Neto

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