Recepção de convidados, abertura e café da manhã
Os convidados foram recebidos pela equipe do IAB e em seguida foram conduzidos à área de laboratórios onde o Presidente da instituição, Prof. Ondemar Dias, inaugurou o ciclo de comemorações. Com o discurso de abertura ministrou uma verdadeira “aula” de História do IAB e das sociedades que formaram a Baixada Fluminense e o nosso país.
Seguem alguns trechos do discurso informal do Prof. Ondemar Dias Jr.
“Em nome do Instituto de Arqueologia Brasileira agradeço a presença de todos. Hoje nós comemoramos 53 anos de atividades ininterruptas e espero que demore ainda muitos anos, ininterruptas… Gostaria de dizer, nessa ocasião, que nós sempre dedicamos esse dia a algum aspecto da pesquisa arqueológica do Brasil…e…esse ano nós demos ênfase à inaugurações de novas instalações ou remodelação de instalações, e também à tradição oriunda do continente africano(…) sobretudo à tradição afro-brasileira na região da Baixada Fluminense. São focalizadas nessa área as imensas contribuições que vieram para o nosso país em função da maior migração forçada da História, (…) destacando que o Brasil foi uma das áreas mais importantes desse processo, que é um nome bonito para falar de escravidão né?
(…). Não só o africano foi escravizado, isso é uma coisa importante frisar: Todos os povos foram escravizados!. O nome escravo vem de “eslavo” que é o povo que habita a Rússia até hoje e eram os principais povos escravizados na Idade Média. (…) A grande contribuição do povo africano para o Brasil foi aquela que resultou na nossa miscigenação, étnica e cultural. Sempre se procura destacar as revoltas contra a escravidão, mas até mais importante do que elas foi a resistência pacífica, o escravo formando família, mesmo sabendo que esta poderia ser dissolvida a qualquer momento. Que o filho podia ser separado da mãe quando desmamasse, mas não obstante isso as populações africanas se miscigenaram. Casaram entre si e com gente de outras etnias e de outras categorias sociais. Apesar de todas as dificuldades do futuro passaram, nessa miscigenação, usos e costumes que vieram diretamente da África…e ajudaram a formar o povo brasileiro”
Assista ao discurso completo (“IAB 53 Anos – Discurso Prof. Ondemar Dias”), e outros vídeos do aniversário em nossa Galeria.
Após a fala do Mestre, um delicioso café da manhã foi servido.
Exposição Jardins Suspensos do Valongo – Da Glória ao Esquecimento, Um Lixão de 13 Mil Artefatos
Os presentes acompanharam a inauguração da exposição dos artefatos de pesquisas realizadas nos anos de 1990 – “Jardins Suspensos do Valongo – Da Glória ao Esquecimento – Um Lixão de 13 Mil Artefatos”, com a curadoria da Professora Jandira Neto.
Em virtude de uma missão de arqueologia promovida pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro naquela década, a arqueóloga Eliana Carvalho trabalhou removendo toneladas de lixo que se acumularam sobre as estruturas que um dia embelezaram aquele jardim público. O Jardim foi solenemente inaugurado no início do século XX e ocupava uma área do centro da cidade, incluindo a região do Morro da Conceição e a Rua Camerino, em direção ao novo cais do porto (que se instalava na Cidade do Rio de Janeiro), segundo a nova concepção da era Pereira Passos. Foi ele planejado e construído segundo a mais moderna tendência urbanística de acordo com a inspiração do traço do paisagista mais famoso da época, o francês Auguste Glaziou, ornamentado com estátuas, fontes, canteiros tipo “rocailles” (de cimento imitando pedra e troncos de árvores), bancos, área de lazer, etc. Mas o tempo correu e o eixo urbano mudou de direção, levando o Jardim à decadência, até ser finalmente abandonado. Passou a ser local de encontros fortuitos e de moradia do povo da rua. Progressivamente, o local foi invadido pelo lixo atirado das vizinhanças até sua redescoberta e consequente pesquisa e recuperação. Hoje devolvido ao público, reajardinado, o Jardim recuperou seu lugar nas crônicas dessa cidade. E até seu lixo virou história, catado, limpo, selecionado e finamente, após doze anos de seu recolhimento e seis meses de intenso labor, eis que hoje, sob a orientação da Arqueóloga Jandira Neto, se transforma numa bela e preciosa exposição, que merece ser visitada e apreciada. É um dos mais flagrantes exemplos de como a arqueologia dá nova vida e expressão ao lixo do passado, transformando-o em documento.
Reinauguração da Reserva Técnica e inauguração da nova sala de Antropologia Física
A reserva técnica do IAB vem se formando a mais de meio século e sendo constantemente objeto de interesse e de cuidados da equipe. A cada ano recebe novos investimentos financeiros, estratégicos e metodológicos. Hoje, após mais de um ano de implementos, segundo as normas técnicas recomendadas, se configura como uma das mais modernas em funcionamento neste país.
Eco Museu: “Vestígios Históricos da Tipografia Laemmert”
Em seguida deu-se a inauguração do Eco Museu: “Vestígios Históricos da Tipografia Laemmert”. A primeira grande tipografia do Rio de Janeiro, cuja trajetória vem sendo detectada, camada a camada – na Rua dos Inválidos, 123, Centro, Rio de Janeiro, RJ – desde 2013.
Quando em 2013 as equipes do IAB iniciaram a pesquisa naquele local não poderiam imaginar a importância e a riqueza do acervo que seria recuperado, nos restos de três prédios antigos que haviam sido demolidos e recobertos desde a década de 1940 por um grande e vigoroso galpão que abrigava um estacionamento. Ao serem retirados o piso do mesmo (em certos lugares com quase um metro de espessura) e algumas das 36 colunas de sustentação (que penetravam dois metros pelo solo adentro) começaram a surgir as evidências da antiga ocupação. Entre o acervo recuperado, duas modalidades de resto surgiram: uma proveniente do dia a dia operacional das antigas instalações e outra mais antiga ainda, que um dia serviu de base de entulho para sua edificação. Entre as primeiras, restos significativos de atividades típicas de uma grande oficina gráfica (como tipos, clichês e bases de maquinário). A pesquisa histórica revelou que naquele local, entre 1853 e 1940 funcionara inicialmente as Oficinas Tipográficas Laemmert e depois seus sucessores, a partir de 1910. Esta tipografia foi a terceira a ser instalada no Brasil, responsável pela editoração e publicação de centenas de títulos, incluindo bibliografia dos mais notáveis autores e instituições fluminenses e brasileiras. Entre as diversas bases estruturais daquele empreendimento foi selecionada uma grande e monumental estrutura de pedra, transportada para o IAB e instalada com segurança e ajardinamento, junto com exemplares típicos do sítio, naquilo que se postulou nomear “Memorial Laemmert”.
Palestra da Pós-Doutorada Sandra Beleza
A Pós-Doutorada, Sandra Beleza, atualmente desenvolvendo pesquisas pela University of Leicester (Reino Unido) nos brindou com a prometida palestra, cujo tema foi “Genética e a Ancestralidade Africana”, atual foco de sua pesquisa central, que é o minucioso mapeamento de nossa miscigenação com o povo africano; trabalho este que vem sendo desenvolvido em convênio com a University of Leicester, a UFRJ, a UFBA e o Instituto de Arqueologia Brasileira – IAB, tendo como objetivo desenvolver o mesmo levantamento já realizado nas ilhas de Cabo Verde, em Portugal.
Arco Cultural
Também não podia faltar a exposição “Projeto de Estudos de Patrimônio Imaterial do Arco Metropolitano”. Durante o ano de 2013, pesquisadores do IAB excursionaram por cinco municípios da Baixada Fluminense com o objetivo de identificar, mapear e documentar referências culturais. Parte deste trabalho, que se encontra na fase de produção de publicações, configura a exposição de banners inaugurada no último dia 29 de abril.
Nesta ocasião, além de novas exposições e remodelação de nossas instalações, prestigiamos a cultura africana, baseadas na imensa contribuição trazida pelo grande contingente de africanos forçosamente desembarcados em toda a América e em assombroso número aqui em nosso país, como já foi brilhantemente explicitado pelo Professor Ondemar Dias.
Assim sendo foi apresentada a exposição “Xiré Orixá” do fotojornalista Mazé Mixo e a exibição do documentário “Húndángbènã – O Ninho da Serpente” do mesmo autor.
Almoço Típico
Um almoço neste mesmo dia, com tradicionais iguarias africanas, preparadas pelo Grupo Afoxé Raízes Africanas foi servido.
Mas não podia faltar o bolo e junto com o bolo o discurso, então leia alguns trechos do que disse o Presidente do IAB:
“Em primeiro lugar quero agradecer o fato de o IAB estar com 53 anos… E não foi uma caminhada fácil e não foi sozinho; teve muita gente que colaborou para que chegássemos onde estamos hoje. Gente que se afastou; gente que foi embora; gente que continua conosco. Então, é um trabalho de coletividade. Arqueologia é sempre um trabalho de equipe e o Instituto é o sonho de alguns, a mais de 50 anos, de fazer uma primeira instituição que fosse dedicada à pesquisa arqueológica séria. (…) Eu era muito garoto e na verdade, foi trabalho… muito trabalho. Tudo que vocês virem aqui, que vocês estão vendo aqui, que podem visualizar, podem participar, é trabalho da nossa equipe. Não tem nada aqui que foi dado. Tudo foi conquistado. É um aprendizado também ao longo dos anos. (…) Jandira Neto…a quem se deve esse grande crescimento do IAB… Eu já estava cansado realmente….(…) E…hoje em dia 80% da energia que …eu recebo…é da Jandira…”
Assista ao vídeo dos “parabéns” (IAB 53 Anos – Bolo de Aniversário) e outros vídeos do aniversário em nossa Galeria.
Apresentação do Grupo Afoxé Raízes Africanas
Ao final da tarde o Grupo Afoxé Raízes Africanas fez uma bonita apresentação, com suas vestimentas e danças típicas, dirigido e apresentado por Izabel de Oyá, contagiando os presentes, que entraram literalmente na dança!
Assista ao vídeo da Apresentação do Afoxé (IAB 53 Anos – Apresentação do Afoxé Raízes Africanas) e outros vídeos do aniversário em nossa Galeria.
Com esta belíssima apresentação foram encerradas as comemorações no dia 29, mas a festa continuou no dia 30, confira.
– Comemorações no dia 30/04/2014: