Programa Integrado de Arqueologia Inválidos 123 (Prospecção Interventiva, Monitoramento e Educação Patrimonial) – RJ.

Educação Patrimonial

 

O Projeto de Educação Patrimonial apresentado e aprovado pelo IPHAN para atender ao previsto, à época, na Portaria do Iphan 230/2002 e hoje na Instrução Normativa 01/2015 da mesma instituição, juntamente com o Projeto de Arqueologia, dispôs-se a tratar das questões relativas à sensibilização das pessoas envolvidas quanto aos possíveis impactos ou danos ao Patrimônio Histórico e/ou Arqueológico no terreno localizado à Rua dos Inválidos, 123 no centro da cidade do Rio de Janeiro- RJ. Neste terreno foi planejada a execução de obras para implantação de edificação para uso comercial e, portanto, realizadas as devidas pesquisas arqueológicas.

Colégio ao lado do empreendimento Colégio ao lado do empreendimento Ao fundo,  o Colégio

 Na primeira semana de junho de 2013 nos dias 3, 4, 5 e 6 foram operadas diversas ações nas práticas da Educação Patrimonial nos três turnos de atividades escolares, iniciando-se dias antes  com a colocação de uma faixa na entrada do Colégio Estadual Souza Aguiar, vizinho do local das pesquisas e sede temporária dos quatro dias de atividades socioeducativas diuturnas. Trazia (a faixa) o comunicado aos 1.200 alunos, aos transeuntes e ao público leigo da vizinhança informação sobre a realização dos eventos.

 

A equipe do IAB  foi recebida às 08:00h da manhã do domingo, dia 02 de junho, para a organização dos trabalhos que se iniciaria no primeiro dia de aula da semana.

A escolha do Colégio Estadual Souza Aguiar se deu devido a sua proximidade com a área da pesquisa e também pelo fato de que, após os donos do atual empreendimento constatarem haver sido seu muro (da escola) adentrado 1 metro no então recém-adquirido terreno, deu-se então a demolição e reconstrução dentro das novas medidas causando forte impacto no andamento do ano letivo da escola. Isso entre outras imbricações ocorridas em relação às edificações anteriores do terreno em questão, em seus 105 anos de existência, conforme constatadas após as pesquisas realizadas na área.

Juntamente com a Diretora Geral do C. E. Souza Aguiar, Ana Cristina Rodrigues Xavier e Silva foi desenhado um plano de ação levando em consideração a enorme curiosidade dos alunos pelas atividades da pesquisa de campo que se desenvolvia ao lado da escola e que, por estes, eram acompanhadas pelas janelas das salas de aula. Isso estimulou sobremaneira a busca de soluções. Mas havia dois outros fatores igualmente importantes que pesavam nas decisões. Um era a impossibilidade de se levar cerca de 1.200 alunos para visitar o sitio arqueológico em plena escavação, em função do extraordinário e inviável deslocamento das inúmeras turmas por turno e o natural transtorno no andamento das atividades no empreendimento com suas máquinas em plena ação. E por último a impossibilidade de atender aos alunos do turno da noite com esta atividade.

 

Coincidindo, as ações, com uma maratona de matemática a nível nacional, o que impedia os professores de liberarem as turmas para os encontros com tais informações, a equipe responsável pela organização teve que lançar mão de muita criatividade e improviso para levar os alunos a participarem.

Partindo destes fatos e tendo como objetivos demonstrar a profissão do arqueólogo, promover a interatividade com o tema da arqueologia, estimular as descobertas do papel profissional do arqueólogo e estabelecer contato direto com o sítio arqueológico em questão, foram pensadas e oferecidas várias ações para aproximar a arqueologia dos alunos. Foram elas: palestras, oficinas, teste vocacional e um “sítio arqueológico” (fac-símile) que consiste em camadas estratigráficas distribuídas horizontalmente, lado a lado.

Assim, ao ser finalizada toda a logística no domingo no dia seguinte às 8:00h  da manhã da segunda, 3, todos já se encontravam a postos para a abertura dos trabalhos, acompanhados da diretora do CESA, Profª Ana Cristina Rodrigues, seu diretor-adjunto, Prof. Rodrigo de Paula, a representante da Even, arquiteta Gabriela Medeiros, Jandira Neto, a responsável pelo Programa de Educação Patrimonial em questão e o Professor Ondemar Dias, Diretor-presidente do IAB e toda a equipe, com cerca de 25 pessoas, para atender aos três turnos das atividades.

 

A Even ofereceu um farto e delicioso café da manhã; uma bela entrada para um convite a um saber tão incomum ao cotidiano daqueles estudantes.

 

O teste vocacional “Você seria um arqueólogo?” teve por meta identificar características típicas de personalidade individual e relacioná-las à profissão do arqueólogo e também a áreas afins, como história, geografia, biologia, antropologia e geologia. Os testes foram distribuídos durante os intervalos e seus resultados publicados em um grande painel. O próprio aluno pode fazer “sua avaliação de resultados” antes de participar das palestras.

 

A palestra “Afinal, o que é Arqueologia?” buscou explicitar inicialmente os conceitos de Arqueologia, Cultura e Patrimônio. Historiou a pesquisa arqueológica no Brasil e falou do “modus operandi” na arqueologia brasileira e em especial o modo de fazer do IAB.

Dando continuidade, para melhor compreensão do que é a arqueologia, foi apresentada também a palestra “Arqueólogo, Vida e Profissão”. Em seu propósito informativo, nesta oportunidade, foram tratados de modo simples, numa linguagem adequada para jovens e adolescentes, os temas relacionados aos modos de fazer do profissional da arqueologia os quais são: o planejamento gerencial da pesquisa, a etapa de campo, de laboratório, etapa de interpretação de dados e produção intelectual sobre os dados bem como  sua divulgação, a exemplo, a educação patrimonial. Na conversa com os estudantes falou-se sobre os sítios arqueológicos incluindo informações específicas sobre o Projeto de Arqueologia naquele momento em curso, na Rua dos Inválidos, nº 123, esclarecendo seu objetivo e o papel do empreendedor na arqueologia contratual.

Os arqueólogos convidados falaram de suas experiências, levando para a sala de palestras, inclusive, algumas ferramentas utilizadas por um arqueólogo no campo. Entre eles o diretor-presidente do IAB, Professor Ondemar Dias, o, na época, vice-presidente, Divino de Oliveira, a arqueóloga/gerente do Programa de Arqueologia em execução, Jandira Neto, o arqueólogo corresponsável pela pesquisa em questão, Rhuam Souza e outros, outrora adolescentes que participaram do Projeto Pesquisador Curumim, e que já naquela época (2013) cursavam faculdades; jovens, orgulhos do Instituto de Arqueologia Brasileira.

 

Em outro espaço da unidade educacional, a Oficina “Peneiras de Ciência” levava os estudantes ao contato direto com o objeto patrimonial através de inúmeros artefatos arqueológicos sem procedência, doados ao IAB ao longo de seus, naquela data, 52 anos de História. A proposta dessa Oficina é permitir que artefatos criados por nossos ancestrais possam ser manuseados ao mesmo tempo em que a explicação do seu significado possa conduzir o interlocutor à compreensão da evolução da tecnologia na construção dos mesmos, demonstrando a trajetória do desenvolvimento social e cultural do nosso povo.

 

Outro recurso utilizado para a interação dos alunos foram os vídeos temáticos exibidos em um telão no pátio de entrada da escola, relacionados ao tema da arqueologia como:“A Criança da Floresta”, “Uma breve história do IAB”, “Sambaqui da Tarioba”, “Sambaqui da Beirada”, “Arte Rupestre”, “Saberes da Cultura Imaterial de Paracatu”, “Arqueologia – Programa AHE Batalha” e “Educação Patrimonial no Arco Metropolitano do Rio de Janeiro”.

 

A exposição “Evolução Genética e Cultural do Homem Brasileiro” montada no pátio do colégio, em formato de fac-símile trata de “um sitio arqueológico ideal” onde o “feliz arqueólogo” encontra da cultura material do século XXI até a do homem do sambaqui de seis mil anos, em apenas 1m² de escavação.

 

Mais uma extraordinária forma de aproximar os estudantes da arqueologia foi por meio da Oficina “Como os Vestígios do Passado se Transformam em Documentos”.  A ideia inicial de “trazer o sitio arqueológico para dentro da escola” se traduziu nesta oficina.

Previamente acordado com a direção da instituição de ensino a utilização do seu laboratório e lançando mão de materiais de superfície deixados no descarte do sítio arqueológico como restos de tijolos, de telhas, argamassas, metais, pedras etc…, e, após os estudantes serem devidamente aparelhados com instrumentos de proteção como coletes, luvas e máscaras, foi realizada uma “oficina de laboratório”. Nesta foi demonstrada a forma como é feita a curadoria do material arqueológico resgatado em um sítio. Inicialmente os artefatos foram apresentados aos participantes, informando-os de sua procedência e a sequência de eventos necessários à sua preservação numa instituição de guarda a partir do momento em que se dá o resgate. Seguindo o planejamento puderam desenvolver praticamente todas as etapas do processo: lavar, classificar, numerar, categorizar embalar e identificar por meio de etiquetas.

 

No encerramento do evento, ao final de intensas atividades diuturnas por quatro dias consecutivos, foi distribuído material paradidático que denominamos “arqueologia virtual”. Ao buscar no mercado da mídia eletrônica um jogo cujo tema fosse a arqueologia, constatou-se a sua inexistência até então. Assim sendo a coordenação do Programa foi decidiu desenvolver este produto e denominá-lo de “Arqueologia em Jogo” ou como os seus criadores gostam de dizer “Archaeology Play”. Trata-se de uma ferramenta de pesquisa estudantil sobre o tema da arqueologia. O “game” foi elaborado com o objetivo de popularizar o conhecimento da arqueologia junto ao público leigo de forma lúdica e prazerosa. Com o tema “Evolução Genética e Cultural do Homem Brasileiro” o jogador tem a oportunidade de pesquisar um sitio arqueológico aumentando seus conhecimentos ao buscar, através de links associados aos artefatos localizados – objetivo imediato do jogo -, outros dados a respeito dos mesmos. Como complemento, também foram distribuídos portfólios do IAB contendo informações sobre Educação Patrimonial, Patrimônios e Sítios Arqueológicos.

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Com a continuação por mais dois anos consecutivos de pesquisas e identificado naquele local praticamente o embrião da indústria topográfica brasileira, responsável pela impressão de importantes documentos do Governo Federal e das primeiras edições de livros de alguns dos mais renomados escritores brasileiros, entre eles Machado de Assis e Euclides da Cunha e tendo sido o sítio completamente resgatado, deram-se mais dois importantes desdobramentos no tangente à Educação Patrimonial. O primeiro a ideia de se reproduzir parte da tipografia ali localizada, com as pedras, os alicerces e estruturas de fixação das máquinas num espaço do IAB posteriormente denominado Eco Museu. Aqui, artefatos referentes ao sítio, um grande painel e demais banners explicativos perpetuam a memória deste importante momento histórico da cidade do Rio de Janeiro.

 

O segundo ato para a preservação da memória foi a instalação de  painéis explicativos na entrada do prédio que foi construído no local onde outrora havia o sítio, contribuindo igualmente para a preservação, mesmo que de forma apenas imagética, esta valiosa herança.

 

O Instituto de Arqueologia Brasileira  vem, de público, agradecer a parceria com a direção do Colégio Estadual Souza Aguiar através da sua Diretora Ana Cristina R. X. e Silva, seu Diretor-Adjunto Rodrigo F. de Paula e demais servidores públicos os quais, durante os meses que antecederam e durante o evento propriamente dito, foram absolutamente solícitos e generosos com a sua equipe e posteriormente unânimes na opinião positiva sobre o seu trabalho.

Agradece também à Even Empreendimentos que, imbuídos do espírito cultural, cumpriram todas as exigências dos órgãos reguladores de tal empreitada, contribuindo para mais um vigoroso passo na caminhada do resgate da nossa História.

E por fim agradece imensamente a todos os seus funcionários e colaboradores em geral que trabalharam incansavelmente para atender a mais esta demanda alicerçada no Pilar do Ensino da sua Instituição.

Texto: Antonia Neto

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