Atividade essencial para a identificação e resgate de material arqueológico durante obras realizadas no território nacional, essencialmente dirigida a leigos que estarão direta e indiretamente envolvidos no processo de execução, a educação patrimonial, parte do Projeto de Prospecção Arqueológica e Monitoramento das Obras de Restauração do Complexo Arquitetônico Asilo Barão do Amparo, que está sendo empreendido na cidade de Vassouras-RJ, foi efetivada no dia 12 de março de 2019 para todos os funcionários que atuarão em todos os setores durante a dinâmica da restauração do complexo arquitetônico.
Para isto a equipe de educação patrimonial do IAB deslocou-se até a cidade com a Oficina Peneiras de Ciências, cujo material educativo demonstrava essencialmente modelos de instrumentos, utensílios, ferramentas e/ou objetos que provavelmente surgiriam durante as pesquisas arqueológicas que seriam, imediatamente após, iniciadas.
Como metodologia para melhor compreensão da importância do trabalho do arqueólogo o Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB utiliza o método do Psicodrama Pedagógico de Levy Moreno1, que se desenvolve em quatro etapas distintas:
- Aquecimento inespecífico: qualquer ação que mobilize a energia vital do sujeito da base do corpo em direção ao cérebro.
- Aquecimento específico: a energia mobilizada ao chegar ao cérebro é direcionada ao tema a ser abordado no processo de reaprendizagem.
- Dramatização: utilizando o improviso, o sujeito é literalmente exposto ao objeto através da ação dramática.
- Compartilhamento: o sujeito torna-se autor do “texto”, o “novo dono” do objeto patrimonial agora ressignificado na ação dramática.
[1]Jacob Levy Moreno (1889-1974) Nasceu na Romênia. Médico, psicólogo, ï¬lósofo, dramaturgo, criador do Psicodrama e pioneiro no estudo da Terapia de Grupo.
Após contextualização pela coordenadora de educação patrimonial, psicodramaticista, Jandira Neto, e com base na metodologia exposta acima, o primeiro ato – o aquecimento Inespecífico – foi orientado pelo Auxiliar de educação patrimonial William Cruz cujo resultado é sempre o esperado: momentos de brincadeiras e pura descontração dos presentes.
Atingido o primeiro objetivo, o aquecimento específico foi tarefa do Professor Ondemar Dias, Historiador e Coordenador Geral do projeto de arqueologia, que discorreu sobre o surgimento das Santas Casas no Brasil e no mundo, e em especial demonstrando as utilizações e mudanças sofridas por aquele complexo arquitetônico ao longo dos anos e sua importância para a história, não só da própria cidade, mas como parte de um sistema de ajuda humanitária universal, cujo reconhecimento como patrimônio cultural material se deu quando foi tombado pelo Iphan, em 1986 e cuja restauração, como forma de preservação, se iniciava naqueles dias.
O Arquiteto responsável pela restauração, Thiago Thuler, focou a sua apresentação na história de evolução das técnicas construtivas demonstrando, dentro do que foi exposto pelo Professor Ondemar Dias, as diferenças construtivas na própria casa em restauro.
Explicou que a obra será realizada respeitando a identidade daquele bem patrimonial tombado e que “o resgate do prédio será volumétrico, onde toda a fachada e telhados serão preservados (a parte tombada pelo IPHAN), como principais referenciais do lugar e que somente a parte interna sofrerá mudanças significativas.”
Reforçando constantemente a importância de preservar o histórico daquele local aos seus colaboradores e demais presentes, demonstrou grande conhecimento histórico e domínio do projeto a ser executado.
Finalizada esta etapa o momento seguinte foi o da dramatização, no qual os presentes foram postos em contato direto com tipos de materiais que poderiam ser encontrados durante o trabalho de arqueologia naquele local. Cachimbos, garrafas de stoneware, louças, vidros, metais, entre outros; material educativo específico que pode ser manuseado por todos levando-os a experimentar terem sido eles mesmos os autores da sua produção e, portanto, induzindo-os ao objetivo central que é o de cuidado e proteção do seu patrimônio.
Alguns dos operários reconheceram que já viram determinadas peças em outras obras já realizadas, porém não tinham noção do que se tratava e da importância que possuíam. Este foi o caso do operário Flávio de Oliveira, que diz ter visto um “caco” de louça parecido com que a equipe do IAB apresentou, durante sua atuação na obra de restauração do Museu Nacional.
Também nesta etapa, outro “caco” de louça encontrado no terreno do antigo asilo chamou atenção. Ele é do Séc. XIX e quase idêntico ao material levado pela equipe do IAB para a Educação Patrimonial.
Na última etapa, o compartilhamento, todos já se encontravam eufóricos, ansiosos para encontrarem, resgatarem e ajudarem a promover a preservação de materiais que, por ventura, venham a ser encontrados, e até mesmo orgulhosos por fazerem parte da história do resgate de tais artefatos.
Finalizando os trabalhos foram entregues materiais de fixação do conteúdo ali apresentado.
Texto: Antonia Neto
Fotos: William Cruz e Sérgio Serva
Equipes:
Arqueologia e Educação Patrimonial:
Ondemar Dias – Coordenador Geral do Programa de Arqueologia
Jandira Neto – Coordenadora Geral do Projeto de Educação Patrimonial e Gerente do Programa de Arqueologia
Sérgio Serva – Arqueólogo de Campo
William Cruz – Auxiliar em Educação Patrimonial
Auxiliares de campo – Jaime Freitas – Eduardo Luciano e Abrãao Marcelo