Ao meu Amigo Miller

Planeta Terra, 11 de julho de 2018.

Hoje deixou ele o Meu amigo Miller

Recebi há pouco a notícia que meu amigo Eurico Miller partiu hoje cedo, por insuficiência respiratória segundo me disseram! Por mais que a gente espere notícias dessa ordem elas sempre nos surpreendem, ainda mais quando se trata de um “cara” que sempre fez o que quis! E eu não sei se ele estava a fim de “cair fora”, pois da última vez que estivemos juntos em Brasília, há cerca de um ano, mesmo “vendo coisas que só ele via naquele momento”, parecia estar bem disposto a tudo, até mesmo a voltar para a Amazônia!

E a tristeza aumenta ao lembrar que juntos, comigo e com a Jandira, estava também a nossa amiga Lucia Pardi, que nos ciceroneou carinhosamente em Brasília quando juntos, fomos à casa dele buscá-lo para jantar conosco às margens do lago Paranoá. Não passava nem de perto pela nossa cabeça que seria a última vez que estaríamos com ela e com ele. Nada denunciava tal proximidade! Rimos de Tudo e de Todos após “meia dúzia de whiskies”  tomada por ele com muito prazer! Mas a vida é assim mesmo, quando menos se espera, lá vai um de volta ao lar, nesse caso, dois!

Pois é. Se alguém no Brasil pode ser chamado de “Indiana Jones”, este cara era o Miller. Não pela busca de tesouros, mas pela aventura constante que foi sua vida, enquanto pôde se movimentar. Ele andou demais! Não conheço ninguém que tenha se arriscado tanto; que tenha sofrido mais de três dezenas de crises de malária; que tenha vivido meses entre índios, tornando-os colaboradores e deixando parte significativa dele mesmo entre seus amigos tribais. Desde sua Taquara, terra em que sonhou alto, construiu e deixou prá lá, pagando pela sua falta de subserviência, até Rondônia, Brasília e Amazônia, pesquisando sob Orion; aprofundando trincheiras nas margens do Madeira, prospeccionando Linhas de Transmissão e Hidrelétricas, sem dúvida viveu uma vida plena, trabalhou como um mouro, mas também soube aproveitar as coisas boas da vida. Não, não foi um homem comum. Era o “Gauchão grosso” como gostava de se dizer, mas, sobretudo, um grande, muito grande e capaz arqueólogo. Um amigo de fato, nada terno ou simpático; mas um amigo sincero, em quem sempre pude, aliás, todos nós seus amigos pudemos, confiar.

Hoje é certo que alguém está feliz e o esteja recebendo de braço abertos. Betty Meggers recebeu de volta o seu filho mais querido. Certamente com o sorriso de alegria do Cliff Evans. E a emoção que seus amigos estão sentindo, sem dúvida justa pela perda de mais um companheiro de lutas, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da arqueologia brasileira, é compensada pela certeza que sua passagem entre nós foi de suma importância. De minha parte certamente, além do agradecimento por tê-lo como colega de trabalho, um simples “até logo”. Certamente por parte também da Jandira, a quem sempre encantou com suas singularidades, um pensamento de paz e o desejo de luz, muita luz em seu caminho pela eternidade.

Só fica uma questão:  E o que será que vai arrumar por lá?           

Saudades de seus amigos

Ondemar Dias,  Jandira Neto e Equipes do IAB