IAB dá Treinamento em Procedimentos de Arqueologia para Trabalhadores da UTE Marlim Azul, Macaé-RJ

Foram planejadas e realizadas atividades de Educação Patrimonial, pela equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), para os trabalhadores da obra de construção da Usina Termelétrica a Gás Natural – UTE Marlim Azul, situada no Complexo Logístico e Industrial de Macaé (CLIMA), em Macaé (RJ), através de contratação efetivada pela empresa Tetra Tech.

O Complexo Logístico & Industrial de Macaé-CLIMA  é um empreendimento sob a responsabilidade da Agrivale Incorporação e Construção S.A.,  idealizado para receber indústrias, empresas de logística, redes hoteleiras, variados tipos de comércio, etc. (CLIMA, 2014), entre estas, a UTE Marlim Azul. 

Os responsáveis pela construção do empreendimento – entendendo a necessidade e tendo por objetivos fomentar iniciativas de promoção, defesa e preservação dos bens arqueológicos, o encorajamento à corresponsabilidade pela preservação do mesmo a nível local e regional; intencionando comunicar, esclarecer e sensibilizar a comunidade e os profissionais direta ou indiretamente envolvidos com o empreendimento sobre as especificidades do mesmo; fazer lembrar das pesquisas ligadas ao licenciamento arqueológico e das implicações jurídico-legais a qualquer tipo de dano ao patrimônio arqueológico nacional – contrataram o IAB para realizar campanhas trimestrais, ao longo de 36 meses, de treinamento específico sobre o tema às equipes que executam o empreendimento.Em atendimento à legislação vigente para liberação das licenças de instalação, e ainda durante à implantação do CLIMA, prospecções arqueológicas foram realizadas pela empresa Alasca Arqueologia em toda a área do empreendimento, e concomitantemente a educação patrimonial, com Relatório Final entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2016.

Educação Patrimonial é o que acompanha as pesquisas arqueológicas, e tem por meta educar as pessoas em relação aos bens móveis coletados nos sítios pesquisados e os bens imóveis preservados em contexto.

O método de educação patrimonial aplicado pelo IAB objetiva especificamente que, em todas as campanhas e ao fim do treinamento, os funcionários tornem-se capazes de reconhecerem um artefato arqueológico quando de suas atividades diárias, visto a importância, histórica, neste caso, da região.

Com isto como meta, a equipe de educação patrimonial do IAB, integrada pela Arqueóloga e Técnica em Educação Patrimonial Paloma Santana, pelo Historiador e Técnico em Educação Patrimonial William Cruz, coordenada pela Arqueóloga/Educadora Patrimonial Jandira Neto, chegou ao canteiro de obras às 6:30h da manhã do dia 18 de novembro de 2020, sendo recepcionados pela  Analista Ambiental da empresa Tetra Tech, Sra. Talita Prates.

Em razão do momento pandêmico que se apresenta neste ano, todas as medidas possíveis, de segurança contra a COVID-19, foram pensadas. Assim sendo, o número de pessoas atendidas foi reduzido para a capacidade da sala na qual ocorrreram as atividades, onde todos utilizaram máscaras de proteção, luvas para o manejamento de materiais e, ainda,  com o ambiente arejado, foi respeitado, na medida do possível, o distanciamento social. Os trabalhadores, então atendidos, foram os da empresa Grupo CMP Montagens Industriais, e totalizaram vinte e nove as pessoas que participaram,  no horário entre 07:00 e 09:00h.

Com base na metodologia aplicada pelo IAB (já descrita em publicações anteriores) as atividades iniciaram com o grupo sendo orientado a respeito dos procedimentos. Fez-se um levantamento de expectativas, indagando se os mesmos sabiam o porquê estavam fazendo aquele treinamento.


Aquecimento inespecífico:
Qualquer ação que mobilize a energia vital do sujeito da base do corpo em direção ao cérebro.A seguir a metodologia foi empregada e sua prática simplificada se faz através da aplicação técnica de quatro etapas sequenciais ao sujeito em ação:

  • Aquecimento específico: A energia mobilizada ao chegar no cérebro é direcionada ao tema a ser abordado no processo de re-aprendizagem.
  • Dramatização: Utilizando o improviso, o sujeito é literalmente exposto ao objeto através da ação dramática.
  • Compartilhamento: O sujeito torna-se autor do “texto”, o “novo dono” do objeto patrimonial agora ressignificado na ação dramática.

Como Aquecimento Inespecífico utilizou-se a técnica de arranque físico: neste caso, o emprego de uma música com movimento ritmados foi aceita e  recebida com risos, levando-os a participarem entusiasticamente.

Durante a conversa, destacou-se a importância de não se remover do solo, destruir ou vender artefatos arqueológicos, e foram devidamente orientados sobre qual deve ser o procedimento ao encontrar algum tipo de artefato durante as obras ou em qualquer outra circunstância.Como forma de Aquecimento Específico, foi proposta uma palestra interativa, com a apresentação de um Power Point e a indagação: “Afinal, o que é Arqueologia?”. Neste PPS, foram exemplificados os conceitos básicos de arqueologia, patrimônio, patrimônio cultural material e imaterial, metodologia da pesquisa arqueológica e legislação referente à proteção dos bens arqueológicos.

Informou-se sobre a grande probabilidade – com base nos dados de pesquisas arqueológicas da região – de se encontrar material arqueológico no local uma vez que,  o levantamento feito pelo IAB mostra que em Macaé existem cerca de vinte sítios arqueológicos registrados anteriormente, sendo a maior parte deles pesquisados pelo IAB e que, deste total, a maioria é sítio arqueológico de povos caçadores-coletores, da Tradição Sambaquiana. Após falar conceitualmente do tema utilizou-se como exemplo desta Tradição, o Sítio Sambaqui do Tambô localizado na Ilha de Santana Macaé-RJ, em 1975.  Além destes, mais seis sítios arqueológicos e três ocorrências foram localizados pela empresa Alasca Arqueologia quando da prospecção arqueológica durante a implantação do CLIMA.

Como preparação da etapa seguinte, um dos tópicos abordados durante a colocação destes dados foi relacionado aos tipos de material arqueológico que podem ser encontrados na região.

De acordo com o relatório da pesquisa arqueológica feita pela A Lasca Arqueologia para implantação do CLIMA, a maioria dos sítios arqueológicos encontrados na área onde está sendo construído o empreendimento é do tipo colonial, o que significa dizer que foram localizados vestígios da presença dos colonizadores europeus, dos africanos e encontrados fragmentos de material cerâmico e evidências líticas, o que sugere, ainda, a presença de antigas populações indígenas.

Sendo assim, a equipe de Educação Patrimonial do IAB  empenhou-se em mostrar e fixar a imagem de materiais arqueológicos pré-coloniais e coloniais para o seu fácil reconhecimento pelos trabalhadores em campo.

Ainda nesta etapa, foi cumprida uma atividade de fixação de conteúdo, com o propósito de constatar se os trabalhadores (sujeitos daquela ação) teriam absorvido a contento o aprendizado oferecido, a qual constitui-se de um jogo entre os participantes denominado “Descubra, se puder!” que consiste em olhar para a mesa com os materiais expostos e desenhar em um quadro algo relacionado ao material, à Tradição ou mesmo o próprio material; daí então, os demais precisam identificar o que ele desenhou. Pontua quem descobre a qual grupo étnico se refere o desenho.No quesito Dramatização, tencionando levar os participantes o mais próximo dos tipos de materiais, foi aplicada  a Oficina “Peneiras de Ciências”, (organizada com artefatos sem procedência arqueológica utilizados para fins educacionais), a qual  oferece a possibilidade de um  contato direto com os mesmos,  os quais poderiam ser encontrados durante o trabalho de execução do dentre eles, cachimbos, fragmentos de urnas funerárias, artefatos líticos, material ósseo (etnográfico), entre outros, para que fossem observados, tocados e sentido suas texturas.

Na última etapa, o Compartilhamento, cada participante relatou o que achou do trabalho e o que tinha absorvido da experiência ali vivenciada. De acordo com as impressões compartilhadas foi observado um relevante grau de euforia e satisfação, talvez pela oportunidade de ter acesso a algo tão distante dos seus cotidianos. Já na primeira rodada, o funcionário Weslley Flores desenhou o continente africano em referência aos materiais arqueológicos que marcam a presença dos africanos no Brasil e, no desenvolvimento da atividade foi certificado que todos apreenderam o conteúdo de maneira satisfatória.

Um momento bastante gratificante foi quando um dos funcionários, o Carlos Eduardo, relatou que já havia participado de outra atividade de Educação Patrimonial do IAB, durante a construção da rodovia do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro e que estava feliz em poder participar mais uma vez.

Ao final, os participantes receberam um kit contendo duas publicações com conteúdo de fixação.

 


Fotos:
Wlliam Cruz e Paloma Santana 

Texto: Antônia Neto e William Cruz

Equipe do IAB

Ondemar Dias – Coordenador Científico – Diretor Presidente do IAB

Jandira Neto – Arqueóloga/ Coordenadora Científica de Educação Patrimonial

William Cruz – Historiador /Coordenador de Campo

Paloma Santana – Arqueóloga/Técnica em Educação Patrimonial

Belford Roxo, 30 de Novembro de 2020