IAB ministra Treinamento em Educação Patrimonial na cidade de São João da Barra-RJ.

A GNA – Gás Natural Açu empreende o projeto da UTE GNA I, previsto para entrar em operação comercial em 2021, que consiste em uma usina termelétrica a gás natural em ciclo combinado de 1,3 GW, um terminal de regaseificação de GNL, uma linha de transmissão e uma subestação, que ligará a termelétrica ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O projeto é parte do maior parque termelétrico a gás natural da América Latina, que está sendo construído pela GNA no Porto do Açu. Além da UTE GNA I, a companhia irá construir a UTE GNA II, com 1,7 GW de capacidade instalada. Juntas, as duas termelétricas somam 3 GW.A UTE GNA I apoiará a diversificação da matriz energética do Brasil, aumentando a resiliência do sistema, promovendo a segurança energética e contribuindo para uma energia confiável e acessível. (fonte:https://www.opetroleo.com.br/gas-natural-acu-conclui-financiamento-para-o-projeto-ute-gna-i/?fbclid=IwAR2UJlqDB_GJmtEcxk6ouuZzZgSc2mtH_EDrYNDHVA4G0-tQhirPptPRIs8 )

Vista aérea do Porto do Açú, área de atuação dos trabalhadores.  Imagem cedida pelo empreendimento, 2019

A GNA, entendendo a necessidade e tendo por objetivo fomentar iniciativas de defesa e preservação dos bens arqueológicos, bem como a promoção da corresponsabilidade pela preservação do Patrimônio Arqueológico regional e local, além de querer comunicar, esclarecer e sensibilizar a comunidade e os profissionais direta ou indiretamente envolvidos com o empreendimento sobre as especificidades do patrimônio arqueológico, das pesquisas ligadas ao licenciamento arqueológico e das implicações jurídico-legais de qualquer tipo de dano ao patrimônio arqueológico nacional, contratou o IAB para treinar as equipes do empreendimento para tais fins.

Como objetivo específico era necessário que seus colaboradores pudessem reconhecer um artefato arqueológico quando de suas atividades diárias no Porto do Açu, em São João da Barra (RJ), visto que um trabalho de arqueologia já foi realizado no local por outra empresa e encontrou evidências de ocupação pré-histórica e colonial na região. As atividades de Educação Patrimonial foram realizadas para dois grupos de trabalhadores do Porto, como previamente agendado pela GNA, ambos no dia 18 de abril de 2019.

A equipe de Educação Patrimonial foi composta pela arqueóloga Paloma Santana e o historiador William Cruz e os trabalhadores atendidos foram funcionários das empresas: Acciona, Siemens, Andrade Gutierrez e GNA.

E o IAB, como de praxe, realizou as atividades educativas empregando metodologia própria desenvolvida e aplicada ao longo de sua trajetória: O Psicodrama Pedagógico Aplicado à Educação Patrimonial.

A Educação Patrimonial pode ser conceituada como “o ensino centrado nos bens culturais, como metodologia que toma estes bens como ponto de partida para desenvolver a tarefa pedagógica; que considera os bens culturais como fonte primária de ensino” (GRUNBERG, 2000: 5). Também o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN concebe “a Educação Patrimonial como todos os processos educativos que primem pela construção coletiva do conhecimento, pela dialogicidade entre os agentes sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras das referências culturais onde convivem noções de Patrimônio Cultural diversas” (IPHAN, portal institucional)

Idealiza assim que estes processos fortalecem a relação das pessoas com suas heranças culturais, através de aproximações complexas as quais repercutem na sua corresponsabilidade frente à valorização e preservação do Patrimônio. Neste sentido, a ação socioeducativa proposta pelo método do Psicodrama Pedagógico teve por objetivo final envolver todos os colaboradores de maneira que os mesmos pudessem compreender a importância de um objeto encontrado, trabalho da equipe de arqueologia.

Além dos métodos convencionais, desde 2003, o IAB vem adequando o Método do Psicodrama Pedagógico para trabalhar com Educação Patrimonial. Desenvolvido originalmente por Jacob Levy Moreno,[1]  vem sendo devidamente adaptado pela psicodramatista Jandira Neto, junto ao IAB, como estratégia para fazer educação patrimonial de forma criativa, lúdica e inovadora, com resultados extremamente eficazes.

As ações socioeducativas nesse método têm como principal assertiva colocar o sujeito em contato direto com o objeto (os bens patrimoniais). Sua prática se faz através da aplicação técnica de quatro etapas sequenciais:

  • Aquecimento inespecífico: Qualquer ação que mobilize a energia vital do sujeito da base do corpo em direção ao cérebro.
  • Aquecimento específico: A energia mobilizada ao chegar ao cérebro é direcionada ao tema a ser abordado no processo de reaprendizagem.
  • Dramatização: Utilizando o improviso, o sujeito é literalmente exposto ao objeto através da ação dramática.
  • Compartilhamento: O sujeito torna-se autor do “texto”, o “novo dono” do objeto patrimonial agora ressignificado na ação dramática.

Para os dois grupos o trabalho planejado foi o mesmo, embora o grupo da tarde não tenha podido completar a etapa final por razões alheias a nossa vontade – e a deles: horário do transporte da empresa.  Com base na metodologia descrita acima,  foi tornado ciente a todos sobre os próximos passos os quais tratava-se do início do treinamento, e indagado sobre suas expectativas.
E começou.
O Aquecimento Inespecífico foi orientado pelo educador e, como normalmente acontece, recebido com entusiasmo e risadas por todos os presentes.
Como forma de Aquecimento Específico, o educador apresentou um Power Point com a indagação: “Afinal, o que é Arqueologia?”. Seu conteúdo exemplifica os conceitos básicos de arqueologia, patrimônio, patrimônio cultural material e imaterial, metodologia da pesquisa arqueológica e legislação referente à proteção dos bens arqueológicos.

Início do Aquecimento Inespecífico com o grupo da manhã Aquecimento Inespecífico com o grupo da tarde. IAB, 2019.

Foi salientada a importância de não mover, destruir ou vender artefatos arqueológicos, e qual deve ser o procedimento ao encontrar algum durante a execução das obras.
Também foi informada que a probabilidade, com base nos dados de pesquisas arqueológicas na região – antigas e a atual realizada para o empreendimento-, de se encontrar material arqueológico na obra é alta, visto que em Campos dos Goytacazes existem 29 sítios arqueológicos registrados, sendo que, do total, doze foram pesquisados pelo IAB. Destes, seis são de Tradição Sambaquiana, um de Tradição Tupi, quatro Coloniais, e um da Tradição Una que foi o sítio do Caju, com mais de 30 urnas funerárias resgatadas. Em São João da Barra, local do empreendimento, são sete sítios arqueológicos registrados, sendo três pesquisados pelo IAB. Onde, um pertence à Tradição sambaquiana e dois à Tradição Tupi. Já em São Francisco do Itabapoana, são quatro sítios arqueológicos registrados. Um pesquisado pelo IAB e os demais, em sua maioria, coloniais.

Um dos tópicos abordados durante a colocação destes dados, foi relacionado a que tipo de material pode ser encontrado na região. De acordo com o relatório de pesquisa arqueológica feita por outra empresa para o Porto, a ocupação pré-histórica da região foi a dos índios Goytacazes. Estes, por sua vez, compõe a Tradição Una levando a equipe a se empenhar em mostrar e fixar a imagem de materiais arqueológicos da mesma, com o objetivo de torná-los mais facilmente reconhecíveis pelos trabalhadores em campo.

Aquecimento Específico com apresentação de Power Point para o grupo da manhã Aquecimento Específico com apresentação de Power Point para o grupo da tarde

Na etapa Dramatização, a arqueóloga Paloma Santana apresentou a Oficina “Peneiras de Ciências”, na qual os presentes têm contato direto com tipos de materiais que podem vir a ser encontrados durante o trabalho. Os mesmos puderam tocar, além de observar a textura, forma e pintura de cada material, tendo a cada momento um novo aprendizado.
Cachimbos, fragmentos de urnas funerárias, artefatos líticos, material ósseo (etnográfico), entre outros, foram os materiais escolhidos e apresentados àqueles que vislumbravam poder tocar, pela primeira vez, um “objeto arqueológico”.

Grupo da manhã em contato direto com os artefatos Grupo da tarde em contato com os artefatos

O exercício para potencialização da fixação denominado “Reconhecendo até de olhos fechados” foi especialmente profícuo uma vez que o participante que acertasse, de olhos vendados, que tipo de artefato estava tocando seria “premiado” com uma cartilha do trabalho de Arqueologia, Educação Patrimonial e Levantamento de Patrimônio Cultural Imaterial das Serras Fluminenses realizado pelo Instituto, mais o Portfólio do IAB. Particularmente estimulados pelos “prêmios” houve 100% de acerto!

“Reconhecendo até de olhos fechados”. Entrega de material didático para fixação de conteúdo.

Na última etapa do processo, o Compartilhamento, todos já se encontravam eufóricos e satisfeitos em conhecerem melhor como se desenvolve o trabalho de arqueologia e, até certo ponto, orgulhosos por poderem participar de forma ativa e consciente do resgate de bens tão preciosos para ajudar a contar a nossa história.

O historiador William Cruz encerrou as atividades após convidarem os participantes a resumirem, com uma palavra, a experiência vivenciada. E as palavras mais citadas foram: conhecimento, cultura, história, importância, preservação, cuidado e aprendizado, concluindo, assim, que os objetivos tinham sido alcançados de forma satisfatória.

Compartilhamento.

[1]Jacob Levy Moreno (1889-1974) Nasceu na Romênia. Médico, psicólogo, filósofo, dramaturgo, criador do Psicodrama e pioneiro no estudo da Terapia de Grupo.

Texto: Antonia Neto/William Cruz

Fotos: William Cruz/Paloma Santana