O Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Belford Roxo, Flávio Gonçalves, em visita ao Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB o convidou a expor o grau de relevância do antigo engenho da Fazenda do Brejo como bem cultural para a população, durante a audiência pública promovida na Casa de Cultura de Belford Roxo, no dia 30 de junho de 2017, em apoio ao projeto de revitalização deste importantíssimo patrimônio histórico, localizado em pleno centro da cidade e em torno do qual se deu seu desenvolvimento, mas que hoje se encontra em acelerado processo de deterioração.
O terreno onde está localizada a Fazenda pertence ao Centro Universitário Abeu e seu pró-reitor administrativo, Antônio Carlos de Santana, é um dos que conduzem o movimento de revitalização junto à Prefeitura de Belford Roxo.
Algacir Maeder Moulin, Secretário Municipal de Articulação Política, reconhece que a propriedade é parte da identidade cultural do Município e apoia o projeto, bem como os diversos outros membros do governo e demais cidadãos que estiveram presentes ao evento, pois acredita que a sua revitalização concorrerá para autoestima da população, já que a mesma é parte da Memória Municipal.
Mais do que fazer um breve histórico e endossar sua relevância histórica, o IAB propôs que o espaço seja transformado num belo Parque Arqueológico Ambiental criando, além de uma área de lazer, um ponto turístico na Baixada Fluminense gerando recursos para a cidade, concomitante ao encontro do público com as memórias de tempos áureos da Fazenda – apesar de utilizar mão de obra escrava, comum à época – quando, como outras inúmeras fazendas localizadas na região da Baixada Fluminense, foi fomento de grande desenvolvimento econômico do estado do Rio de Janeiro por meio da sua produção de açúcar e outros bens.
“Durante séculos, a cidade do Rio de Janeiro foi abastecida, enriquecida e valorizada pela população que se fixou no Recôncavo da Guanabara. Ou seja, durante séculos, essa região, cuja importância histórica é desconhecida por seu próprio povo e discriminada pelos cariocas, tratando-a como “periferia”, tinha sido um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento do atual estado do Rio de Janeiro.” (CRUZ, W. em sua monografia-aprovada- para graduação em História).
Um breve histórico (Por Ondemar Dias), apresentado em PPS durante o evento.
Suas Primeiras Demarcações
O Engenho do Brejo teve sua primeira demarcação em 1683 (segundo dados de Escritura Cartorial de 1739 do Arquivo Nacional).
O primeiro proprietário citado é Manoel da Guarda Muniz e sua esposa.
Em 1738 a propriedade era de duas irmãs filhas do casal citado, (“donas” Brígida da Guarda Maciel e Paula Maciel da Costa), que doaram parte da produção do mesmo como dote de casamento para sua filha e sobrinha Páscoa (ou “Pachoala”) para casar com Cristóvão Mendes Leitão.
Por Inventário de 1754 sabemos que o Cristóvão, então viúvo e falecido, havia comprado dos demais herdeiros as partes do engenho e era seu único proprietário.
Em 1779 pelo Relatório do Marques de Lavradio o Engenho pertencia ao Capitão Apolinário Maciel e seu irmão, o Padre Antonio Maciel da Costa, produzindo 25 caixas de açúcar. Este padre é citado como único dono do engenho em 1794 pelo Monsenhor Pizarro de Araújo.
Suas dimensões e fronteiras
Em 1855 no Registro de Terras do Império o Engenho pertencia à firma “Carvalho & Rocha Dimensões ao longo do tempo.
Pela medição de 1683, citada na Escritura de 1739 o engenho possuía 1100 metros de frente, na fronteira com a Freguesia de Meriti, alcançando como limite um rio chamado Sapepira, que corria por detrás do Morro do Carrapato, onde hoje se localiza a cidade de São João de Meriti. Dali alcançava, de um lado (ao longo do Rio Sarapuí) o Engenho da Conceição (no Bom Pastor), de outro a proximidade do rio do Bota. De fundos dividia-se com as Terras do engenho do Jamboí, tendo como referência uma “fonte natural d’água”.
Em 1856 pelo Registro de Terras do Império, possuía, ainda, 275 metros de frente até a Fazenda do Carrapato (dos Teixeira Guerra, hoje Pavuna) e mantinha seu limite com a Fazenda da Conceição (Bom Pastor), mas de alguma forma atingia também a Fazenda do Barbosa (Vilar dos Teles). Lateralmente mantinha sua divisa na região do “rio do Bota”. São citados ainda, como confrontantes, as terras da Pavuna (Posidônio dos Santos), Fazenda Santo Antônio (Bernardo Joaquim da Costa) e a “Tatimânia” de Dona Maria dos Santos Silva.
Desejamos que toda a população de Belford Roxo, e demais interessados em preservação de patrimônio, patrocinem essa iniciativa com ideias, ações e tudo o mais que se fizer necessário, para que o resgate e exposição de sua história seja um projeto de absoluto sucesso. Estimamos ainda que outras regiões possam aglutinar suas populações em torno de diligências como essa afinal, há muita história para ser evidenciada e muito patrimônio a ser preservado no eterno processo de sedimentação nos pilares da identidade cultural de um povo.
Texto: Antonia Neto
Fotos: Antonia Neto e William Cruz