Nesta exposição você terá oportunidade de conhecer como se deu o processo de formação da cultura dos primeiros “povos das cavernas” do Brasil, conhecidos como povos da Tradição[Saiba mais] Una, e, de que forma eles tradicionalmente transmitiram seu modo de fazer cerâmica, de domesticar plantas e animais, e, muito especialmente, de como valorizar sua gente (mostrado aqui, na maneira como os sepultavam), principalmente as crianças, visto aqui através de três momentos ao longo do tempo (Fases).
Um conjunto de sítios arqueológicos localizado nas margens do Rio Una, em Cabo Frio, onde foram descobertos artefatos cerâmicos com características peculiares e diferenciais do que até então se conhecia em relação às Tradições arqueológicas ceramistas do Estado do Rio de Janeiro, compuseram a Fase Una que recebeu o nome do Rio, em 1965.
A medida que outros conjuntos de sítios, com a mesma cerâmica ali encontrada, foram sendo localizados e pesquisados no Estado do Rio e em diversos outros Estados da Federação deu origem originalmente a Tradição ceramista Una.
Essas semelhanças em padrões de adaptação, tecnologia de fabrico da cerâmica, riqueza e variedades de artefatos iguais caracterizaram esta Tradição, hoje considerada a maior dispersão cultural de povos originários ceramistas fora da Amazônia. Esta já foi localizada no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Tocantins, Goiás e Mato Grosso em diferentes paisagens – serras, vales, planícies, litoral e apresentam datações por rádio carbono (C-14)[Saiba mais] que recuam ao terceiro milênio Antes de Cristo.
Pelo fato de muitos sítios se localizarem em cavernas, diversos tipos de material cultural puderam ser preservados, tais como raras peças de cestaria, tecelagem e até mesmo arte plumária, que passaram a também caracterizar o acervo dessa Tradição. Com o avanço da pesquisa e o aumento de número de datações, estas mostraram sua existência e recuaram sua presença até o horizonte temporal de cerca de 4500 AP (anos antes do presente).
Sociedade tribal, inclusive, desenvolveram a domesticação de diversos vegetais, como o milho e o aipim, o algodão, o amendoim e a cabaça, entre outros menos conhecidos. Até o momento esta Tradição cultural pode ser reconhecida em seis momentos ou Fases – As duas mais antigas estão no Estado de Minas Gerais e foram identificadas como as Fases Unaí e Piumhi no vale do Rio São Francisco.
A Fase Unaí é a mais antiga delas, com datações que recuam ao terceiro milênio antes de Cristo e a Piumhi na região cárstica do “alto São Francisco”. No Estado do Rio de Janeiro, coube também aos pesquisadores do IAB a identificação da primeira cerâmica achada, chamada de Fase Una do litoral (sem datação), seguida das Fases Mucuri e Tardim nas montanhas do interior na região de Santa Maria Madalena e Silva Jardim, e a Fase Ururaí encontrada nas planícies de Campos dos Goitacazes.
Em sepultamentos de Fases mais recentes foram evidenciados acompanhamentos funerários feitos de pequenos animais, atestando também a prática da sua domesticação;
Em seus ritos funerários foi observada que era comum aos participantes colocarem junto aos mortos objetos de uso pessoal, adornos, enfeites e alimentos, o que indica que, como outros povos, também acreditavam existir vida após a morte; esta prática tornou possível preservar objetos frágeis e selecionados, que de outra maneira teriam desaparecido, e graças a ela podemos hoje eterniza-los nessa exposição virtual.
Inventario da Exposição
Idealizada em uma amostra de quinze peças esta exposição arrisca retratar comportamentos sociais extraídos de indícios encontrados sobre os artefatos que melhor representam o cotidiano dessa sociedade.
¹Na arqueologia a Tradição é o modo como podemos definir um grupo social pela análise e interpretação de traços comuns encontrados em seus artefatos culturais, geração após geração ao longo do tempo (Fases culturais) quando coletados nos sítios arqueológicos. É quando podemos nesses objetos “ler seus pensamentos”, entender sua visão de mundo, vislumbrar o seu modo de vida.
²Esse é um método para medir a idade das coisas vivas depois que morrem.